Abertura do Seminário Temático III: Práticas de Inclusão



A Profª Ms. Mirian Elza Finocchiaro Penteado Rocha abriu o evento, diante de um auditório lotado, composto por estudantes e por profissionais engajados na luta por uma educação de qualidade e extensiva a todos.

Apontou os objetivos de cada Seminário realizado neste I Ciclo Temático e sua importância para a formação de futuros profissionais da educação.
"A escola mais exclui do que inclui"
A frase proferida pela Professora Mirian é a chave para que se conheça o verdadeiro objetivo do Seminário Temático III : provocar uma reflexão acerca deste tema tão delicado e complexo que é a inclusão, o que representa um ganho para toda uma sociedade, uma vez que é na escola que se estabelecem as relações mais significativas da vida de cada um de nós.


A Profª Maria Elena Roman de Oliveira fez a apresentação dos palestrantes.

Acessibilidade e Educação Inclusiva

Empregando uma linguagem bastante didática, isentando-se dos difíceis termos jurídicos, o Dr. José Luiz Souza de Moraes, Procurador do Estado de São Paulo e Professor de Direito Constitucional da Universidade Ibirapuera, explanou, de forma simples e de fácil compreensão, sobre Direitos e Garantias Fundamentais, expressos em nossa Constituição Federal.

Destacou que:
  • É inalienável, absoluto, inviolável o direito à Educação a todos os homens, sem exceção.
  • A educação é um instrumento de continuidade social da vida, ou mais que um instrumento, é uma questão de necessidade.
  • A educação engloba a visão daquilo que desenvolve o indivíduo por dentro, permitindo que norteie sua vida contextualizada e também como prática social.
  • Se sabemos que a Educação é um direito de todos, é desnecessário dizer que nesse TODOS estão inclusas as pessoas com deficiência.

  • Entende-se por Educação Inclusiva, o ensino que integra as diferenças e não segrega, incluindo as pessoas com deficiência no convívio com as demais...não é formar guetos, criando-se escolas somente voltadas para as deficiências, para que estes tenham acesso à Educação.
  • Mais importante que quebrar as barreiras arquitetônicas é quebrar as barreiras de atitude. Esta sim é a maior barreira a ser transposta: a dificuldade que se tem de entender o outro, compreender suas diferenças e necessidades. Se derrubarmos essa barreira e fizermos todos entenderem que é preciso pensar também na acessibilidade da pessoa com deficiência, as barreiras físicas também serão tombadas.
  • "Basta um par de asas para que qualquer pessoa possa voar".

Quem são as pessoas com deficiência

Dados da ONU apontam que:
  • No mundo há 650 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa cerca de 10% da população mundial;
  • Na América Latina, existem aproximadamente 50 milhões de pessoas com deficiência;
  • 82% delas vive na pobreza;
  • Da população mais pobre do mundo, 20% tem deficiência;
  • Em países em desenvolvimento, 98% das crianças com deficiência não têm acesso à escola;
  • Das crianças que não possuem um lar e vivem nas ruas, 30% têm deficiência;
  • Somente 3% dos adultos com deficiência são alfabetizados em países em desenvolvimento;
  • O índice chega a 1% para as mulheres.
Esses dados são pouco conhecidos justamente pela exclusão.

Inclusão: fatores de inovação na escola

A Profª PhD Drª Roseli Cecília Rocha de Carvalho Baumei fez um discurso emocionado, levando-nos a sentir seu amor à arte de educar.

Abordou o complexo tema Inclusão de maneira a demonstrar sua indignação com o cenário atual, em que na imensa maioria das vezes, o aluno deficiente é tratado como o indesejado, aquele que é empurrado para o professor que "tem cara de que terá mais jeito para recebê-lo" e não como uma pessoa que tem suas capacidades e merece ser respeitado.

Ressaltou ainda o abismo existente entre as leis e o que é posto em prática nas escolas:

"Há um distanciamento, sim...Incluir não é atribuir à criança com deficiência um material só para ela, mas um material igual ao dos demais. Isso é exclusão velada!" É preciso conduzir o incluso pelos mesmos caminhos do saber trilhados pelos demais".
"Dizer que a inclusão ocorre no sentido mais amplo é imaginação...É bonita a imaginação...utopias...temos direito a elas".
Sua palestra conseguiu envolver a todos os presentes que, no final ofereceram seus gestos de profundo respeito, aplaudindo-na de pé, em um merecido reconhecimento".

Questões dirigidas aos palestrantes...

Existe alguma lei que obrigue os pais a conduzirem seus filhos deficientes à escola?

Dr. José Luiz - Há, sim, meios legais de obrigar. É um direito inalienável, o Estado tem a obrigação de ordenar que se cumpra a lei. Não oferecer à criança a possibilidade de frequentar uma instituição escolar, caracteriza crime de abandono intelectual.

Profª Roseli Baumei - Deveria haver uma integração maior entre Conselho Tutelar e escola.
O Conselho Tutelar e o Ministério Público de cada cidade têm a obrigação de fiscalizar a frequência dos alunos na escola.



No Brasil, estamos em tempo de haver um estudo quanto à Educação Inclusiva?

Profª Roseli Baumei - Na sociedade estamos vendo muitas mudanças, mas muitas atitudes ainda não são suficientes.

A quem recorrer em casos de exclusão ? Qual a possibilidade de ganhar a causa?

Dr. José Luiz- Há, sim, remédios constitucionais. A pessoa que tem direito líquido e certo tem direito ao mandado de segurança.
O Ministério Público é fiscal da lei e também atua junto às pessoas hiposuficientes.
É preciso mover uma ação civil pública.
É uma lei superior e, se o Brasil não cumprir o Direito Internacional, poderá sofrer sanções. Metaforicamente falando, levará "puxões de orelhas" da comunidade internacional.

Percepções...

Os olhares curiosos e sempre atentos, voltados para os palestrantes são indicadores do quão preciosos foram os ensinamentos transmitidos por estes especialistas.

A platéia a todo instante demonstrou profundo interesse pelas questões abordadas e, ao final das palestras, estabeleceu-se um rico diálogo entre especialistas, estudantes e professores, o que explicita a importância desta iniciativa como um salto significativo na qualidade da formação de profissionais mais embasados teoricamente, representando assim, um ganho para toda uma sociedade, uma vez que esta receberá profissionais mais qualificados para atuar em suas escolas, conduzindo as futuras gerações pelos caminhos do saber, com justiça e igualdade.

Oficina "Estimulação precoce da criança cega"

A Profª Ms. Maria Luiza Bonilha Bruno, acompanhada da menina Luiza, apresentou aos participantes diferentes tipos de materiais para estimular o tato nas crianças com deficiência visual.

"É preciso estimulá-las a ver pelos dedos o que se enxerga pelos olhos". O estímulo à percepção do mundo que as cerca se dá ainda pelo uso dos sons: pela entonação da voz é possível expressar à criança o que se sente em um determinado momento.

É preciso auxiliá-las no desenvolvimento da noção espacial, induzindo-as a buscar algum objeto, tateando seu redor.

Oferecer diversas texturas para que desenvolvam a sensibilidade nas mãos (veludo, plástico, lixa etc). Um dado até então desconhecido pela maioria de nós foi trazido pela Profª Maria Luiza e causou diversas reações entre os participantes: é preciso ensinar até mesmo o sorriso. Aprende-se a sorrir vendo os outros a sorrir. Expressões são aprendidas...

Para finalizar, os participantes vivenciaram um pouco o que é
"viver às escuras". Para isso, a Professora Maria Luiza apresentou apenas o som de um vídeo. Esse exercício possibilitou compreender como a imagem se forma pelo aguçamento da percepção auditiva.


Oficina " A confecção de materiais de apoio e respeito às necessidades específicas dos alunos com deficiência"

A oficina, ministrada pela Profª Maria de Fátima Destro Arruda, propiciou aos participantes o aprendizado de como confeccionar materiais destinados à estimulação da coordenação psicomotora e do raciocínio lógico em alunos com deficiências variadas.



Foi possível aprender a produzir materiais que auxiliam os alunos com necessidades especiais no processo de ensino-aprendizado, uma vez que estes necessitam de materiais diversificados para desenvolver suas competências.

Oficina " Procedimentos Musicais na Educação Inclusiva"

A oficina, ministrada pela Profª Ms. Ana Nicolaça Monteiro, empregou práticas de música com a finalidade de possibilitar a alfabetização a alunos inclusos com necessidades específicas.

Envolvendo ritmo, movimento e música é possível promover avanços no desenvolvimento da escrita e fortalecer vínculos entre docente e alunos, uma vez que esse procedimento rompe com o modelo tradicional de aula, em que o aluno passa a a maior parte do tempo sentado, estático.

Práticas interativas possibilitam experiências de convivência mais informal e menos rígida, uma relação mais prazerosa com o ato de aprender.

Oficina "Imagens e sentimentos: conceito(s) de deficiência nas produções audiovisuais

Ministrada pela Profª Ms. Cláudia de Almeida Mogadouro, a oficina abordou a forma como a mídia veicula, em todos os seus suportes, uma visão preconceituosa e distorcida sobre as deficiências, implícita ou explicitamente.


Faz-se necessária uma análise mais crítica das produções veiculadas, para que não se promova uma segregação ainda que inconsciente das pessoas.

Lições para ouvir, gravar e levar para a vida...


"Os alunos com deficiência devem ter o sentimento de realmente pertencer ao grupo.Têm o direito de serem acolhidos assim como são os demais".
"Nega-se a cultura de uma pessoa quando se tenta corrigir suas atitudes...Criam-se tensões".
"Sequestram-se os sonhos da pessoa ao se menosprezar a sua real capacidade".
" Criança com deficiência é a alegria vinda na forma de gente, não uma coitada, digna de pena".
"Não espere que uma mãe diga qual o real estado de seu filho...Para uma mãe, um filho cego tem problema nos olhinhos.Para uma mãe, um filho com deficiência intelectual tem um probleminha de cabeça".
" A diferença faz parte do ser humano e deve ser respeitada...é parte do que nos faz humanos"
"Solidariedade é irmã da esperança."

"Esperança é uma força estranha que nos move".
"Inclusão também é para miserabilidade, não somente para deficiências...Inclusão de etnias...Inclusão para marginalizados, aqueles que estão pelas margens da vida...Inclusão para o gênero mulher".
"O ser humano tem direito a escolhas e cada escolha é uma renúncia...Pesamos cada renúncia e, se for triste, nos ajustamos".
"Quando dizemos que estamos incluindo, já estamos excluindo, afinal não somos todos iguais"?
"Ouvir é um ato de caridade no tempo atual".

Depoimento de alunas

Este Seminário e as oficinas sobre Inclusão estão nos proporcionando uma ampliação de nossos conhecimentos, ajudando na construção de nossa formação como futuros educadores.

A Faculdade Sumaré está de parabéns por esta iniciativa.

"Obrigada por este momento".



Bruna Goretti de Oliveira
Eliane Aparecida Bosco
Neide Cristina Silva Nunes

Agradecimento - Seminário III

Gostaria de agradecer a Sumaré pela oportunidade de voltar à faculdade, agora não como aluna, mas para ministrar uma oficina. Enfatizo o agradecimento especial às professoras Maria Elena e Míriam, por acreditarem que eu fosse capaz de tal desafio.
Espero ter respondido às expectativas, pois gostei muito, me senti em casa.
Todo o conhecimento adquirido foi compartilhado um dia por vocês, na prática real. Um conjunto de fatores com os quais nos deparamos no dia a dia fazem relação com as aulas assistidas, que hoje fazem muito mais sentido.

Obrigada, do fundo do coração, pela paciência quando era aluna e pela confiança e oportunidade de expressar hoje o que um dia vocês contribuiram para que eu fosse.
Estarei sempre à disposição, para qualquer tipo de troca de conhecimentos. Um abraço sincero.


Maria de Fátima Destro Arruda - Oficina de confecção de materiais de apoio e respeito às necessidades específicas de alunos com deficiência

E o I Ciclo de Seminários Temáticos chega ao fim...

O I Ciclo Temático encerra-se atingindo os objetivos aos quais se propôs : promover uma reflexão acerca das práticas educacionais e oferecer subsídios aos profissionais da educação, futuros ou atuantes, para que sintam-se mais preparados, mais alicerçados para enfrentar os desafios que surgirão ao longo de suas vidas.

É a Faculdade Sumaré fazendo com que o lema "Educação para uma mentalidade transformadora" não seja mera retórica, mas um princípio norteador de suas práticas!